World Fashion + Varejo edição 155

26 A REVISTA PARA OS PROFISSIONAIS DA MODA edição 155 Paulo Delegá é diretor da Vendere, agência digital de criação para sites, redes sociais e marketing de conteúdo. www.vendere.com.br por Paulo Delegá A ristóteles, o filósofo grego, foi um dos maiores pensadores da história da humanidade. Mais de dois milênios após sua morte é estudado em universidades pelo mundo afora. No entanto, em um de seus escritos so- bre medicina e anatomia, ele afirmou que as mulheres têm na boca um número menor de dentes que os ho- mens... Hoje, porém, qualquer crian- ça de escola sabe que uma mulher tem os mesmos 32 dentes que um homem. Como um gênio como ele pôde cometer um erro tão bobo? Não sabemos exatamente como ele chegou à sua tese sobre a dentição fe- minina, mas o que restou dos seus livros sugere que ele refletiu sobre fatos que ele conhecia, que os machos de vários animais são maiores e mais agressivos que as respectivas fêmeas e que, nor- malmente, as características físicas de luta e agressividade, como presas, gar- ras e chifres são características mais marcantes ou únicas nos machos. A única coisa que Aristóteles prova- velmente não fez, foi chamar a Senhora Aristóteles sua esposa e pedir para ela abrir a boca, para que ele pudesse con- tar. E se o fez, pode ter dado o azar de ela não ter os dentes do siso, por exem- plo. Ele confiou mais na inteligência e na dedução do que naquilo que hoje chamamos de método científico: só ter certeza de um conceito ou ideia depois de testar rigorosa e repetidamente. CORTA O FILME E PULA PARA O SÉCULO 21 A moral dessa história é que nós, marqueteiros, podemos acreditar que sabemos tudo do mercado e que nossa criatividade é fulgurante, mas se mesmo os maiores gênios da hu- manidade podem errar quando não testam suas ideias, seria sensato que nós testássemos mais as nossas. Porém, além da húbris (para ficar na pegada grega...) e da pressa, testar marketing costuma enfrentar outro empecilho: é caro. É preciso selecio- nar um grupo de pessoas na quantida- de e perfil adequados para represen- tar o público alvo, reuni-las numa sala, submeter a elas as peças da campa- nha, depois entrevistá-las e analisar os questionários com gente especializa- da. Também se pode veicular os anún- cios numa praça de teste, por exemplo, nas TVs e rádios locais de uma cidade e lá pesquisar os resultados, antes de veiculá-los em redes nacionais. Se sua empresa é uma gigante multi- nacional lançando uma nova cerveja é por aí mesmo. Se sua empresa é uma pequena ou média confecção lançan- do uma coleção de jeans, fica difícil. O ABC DA COMUNICAÇÃO A Internet quebrou o modelo tradi- cional de comunicação/pesquisa por- que qualquer coisa que você publicar já contém sua respectiva pesquisa de mercado. Páginas de um site, anún- cios, posts em um blog, tudo pode ser rastreado: se olharam; por quan- to tempo olharam; se clicaram; se a partir daquela informação se interes- saram e foram procurar mais ou se foram embora; se compraram ou não compraram e assim por diante. Uma das mais interessantes possibi- lidades disso é que a criação de comu- nicação pode ser feita no modelo que chamamos de teste A/B/C. Uma nova página de site, por exemplo, já pode partir com três versões que vão sen- do mostradas alternadamente a quem entra no site. Você não precisa deduzir de antemão o que funciona melhor: os próprios clientes mostram para você quais textos, imagens, slogans, cores, etc. funcionam, ao interagirem mais e melhor com a página A, B ou C. O marketing sempre foi (e continua sendo) uma atividade que envolve arte, ciência e uma pitada de sorte. A Inter- net permite aumentar um pouco a por- ção ciência dessa equação. Não é uma panaceia, mas torna mais fácil evitar- mos, pelo menos, o erro de Aristóteles. Oerrode Aristóteles A internet quebrou omodelo tradicional de comunicação/pesquisa, porque o ato de publicar algo na rede já traz consigo a respectiva pesquisa de mercado Fotos: Divulgação

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